MP instaura investigação sobre estouro de pneu de monotrilho

monotrilho

Presidente do Metrô deve ser ouvido na quarta-feira que vem. Já outro procedimento verifica se há má qualidade dos trens da Bombardier e irregularidades no contrato.

O promotor Silvio Antonio Marques, do Ministério Público do Estado de São Paulo, instaurou nesta quarta-feira, 11 de março de 2020, inquérito para investigar o estouro do pneu de dos trens de média capacidade do monotrilho da linha 15-Prata.

O MP quer saber da existência de eventuais erros no projeto ou execução de obras civis da Linha 15-Prata do Monotrilho de São Paulo; existência de falhas ou defeitos de trens da Linha 15-Prata do Monotrilho de São Paulo e determina que a companhia do Metrô informe, se possível, quem são os responsáveis pelas irregularidades na operação da mesma Linha do Monotrilho.

A linha 15-Prata está sem funcionar desde 29 de fevereiro de 2020 (ano bissexto) para investigação das causas do estouro de um pneu da composição M20 que ocorreu em 27 de fevereiro de 2020, na estação Jardim Planalto, zona Leste, às 6h40 aproximadamente.  A parte de uma peça interna da roda, chamada runflat, foi lançada na direção de uma loja na Avenida Sapopemba, como revelou o Diário do Transporte. Ninguém foi atingido pelo equipamento de grandes dimensões e que caiu de 15 metros de altura.

A Bombardier não sabe ainda, duas semanas depois do estouro do pneu, o que ocasionou o problema.

O promotor atende representação dos deputados estaduais José Américo e Paulo Fiorilo.

Na portaria do inquérito, o MP considera que desde sua inauguração, a Linha 15-Prata, que ainda é a única que utiliza tal modelo na cidade de São Paulo, acumula atrasos e uma série de falhas, sendo que diariamente os usuários enfrentam velocidade reduzida, troca de trens, grandes intervalos e a superlotação.

O presidente do Metrô, Silvani Alves Pereira, deve ser ouvido na próxima quarta-feira, 18 de março de 2020, às 15h00.

Má qualidade de trens e irregularidade

Já e o segundo inquérito do MP investigando a linha 15-Prata de monotrilho.

No dia 12 de setembro de 2019, o promotor Ricardo Manuel Castro, prorrogou por mais 180 dias procedimento para investigar irregularidades e má gestão no contrato do monotrilho.

O promotor cita suspeitas de má qualidade dos trens da Bombardier:

Apuração de eventuais irregularidades praticadas no contrato

referente a Linha 15 do Metrô – Monotrilho, em que se relata má gestão do contrato, diante do atraso e má qualidade do projeto dos trens e dos sistemas, que teria disso ocasionado por restrições oriundas da empresa Bombardier.

Histórico de problemas do monotrilho

O monotrilho da linha 15-Prata coleciona uma série de problemas, além do atraso na conclusão das obras, que deveriam ter sido entregues em 2014, ainda para a Copa do Mundo.

27 de fevereiro de 2020: Um jogo de pneus da composição M20 estorou no dia 27 de fevereiro de 2020, uma quinta-feira. O Metrô paralisou a linha no fim de semana e“a incidência de danos em outros pneus dos trens do monotrilho”, suspendendo assim as operações por tempo indeterminado. O Metrô disse que cobrou da Bombardier e do Consórcio CEML – que construiu a via – providências urgentes para a identificação da causa da ocorrência, a sua correção e que eles arquem com todos os prejuízos decorrentes desta paralisação junto ao Metrô de São Paulo.  A Bombardier disse, por sua vez, que recomendou a paralisação de toda a linha por execesso de cautela para as análises.  Ônibus atenderam aos passageiros do monotrilho.

Pedaço de parte interna da roda do monotrilho que foi lançada em avenida durante estouro de pneu do trem de média capacidade

No dia 03 de março de 2020, o Sindicato dos Metroviários de São Paulo, em entrevista coletiva, reiterou que sempre se mostrou contrário à escolha de monotrilho para São Paulo. A entidade trabalhista disse que estuda acionar juridicamente os responsáveis pela implantação do monotrilho no sistema.

“O monotrilho é uma aventura mal planejada para esta demanda. Além da escolha do modal, não concordamos com o modelo de licitação do Metrô. O Estado compra produtos e não tecnologia. Não se pode fazer nada. Até para apurar um problema como este do estouro do pneu, não dá nem pra investigar de forma autônoma. Sempre tem de depender do fornecedor”, disse o coordenador-geral do Sindicato dos Metroviários, Wagner Fajardo.

Também diretor do sindicato, Altino dos Prazeres afirmou que umas das recomendações da entidade é que, mesmo com impactos para os passageiros, por segurança, a velocidade das composições na operação comercial deve ser reduzida.

“Essa ligação tinha de ser metrô, sempre defendemos isso. Mas agora não tem como demolir as vigas, é necessário respeitar as limitações do monotrilho. Não pode circular com alto carregamento e velocidade nas condições atuais. Não temos garantia que todos os problemas da linha 15 serão sanados“, disse.

A reportagem também mostrou que nesta quarta-feira, 04 de março de 2020, um grupo de deputados entrou com um requerimento na Alesp – Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para que seja aberta uma CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito com o objetivo de apurar se realmente o monotrilho para a demanda e extensão da linha 15 é um meio de transporte seguro e os motivos de ocorrerem sucessivas falhas no sistema.

“Em 2020, a Linha 15-Prata lidera o ranking de problemas. Em 28 dias de operação em janeiro, ela teve operação normal em somente 76,4% do tempo, ou seja, a cada quatro horas de funcionamento, uma foi atípica.” – diz parte do requerimento.

O secretário dos Transportes Metropolitanos Alexandre Baldy disse no dia 06 de março de 2020 que o consórcio que implantou e forneceu os trens de baixa/média capacidade do monotrilho vai ser responsabilizado e terá de ressarcir o Estado pelos custos com a Operação PAESE – Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência, pela mobilização de técnicos próprios e pelos lucros cessantes, ou seja, o que a linha 15-Prata deixou de arrecadar por causa do monotrilho parado, o que é previsto em lei.

O consórcio CEML é formado pela fabricante de trens e tecnologia Bombardier e as construtoras Queiroz Galvão e OAS.

O prejuízo estimado foi de R$ 1 milhão por dia parado.

Baldy também anunciou a ida de representantes do Governo do Estado de São Paulo para Brasília recomendar a órgãos federais o impedimento das participantes do consórcio de participar de contratos com o poder público.

1º de janeiro de 2020: Um problema em equipamento de via nas proximidades da Estação São Lucas causou transtornos para os passageiros por, pelo menos, cinco dias consecutivos. O Metrô explicou que o problema foi ocasionado pelo “desgaste natural” de parafusos perto de um equipamento de mudança de via na região da Estação São Lucas .A estação foi inaugurada em 6 de abril de 2018. Em nota, a Companhia de Metrô disse que os parafusos precisaram ser trocados e que pela fixação ser em concreto, seria necessário aguardar.

15 de maio de 2019: A composição M 11 do monotrilho da linha 15-Prata, da zona Leste, se deslocou de uma viga no pátio Oratório no início das operações. O incidente de descarrilamento ocorreu num equipamento de mudança de via. Ninguém se feriu.

29 de janeiro de 2019: No final da noite de 29 de janeiro de 2019, duas composições, M22 e M23, bateram na região da estação Jardim Planalto, na zona leste da capital paulista. Ninguém se feriu gravemente. A estação não recebia passageiros ainda. Um laudo do Metrô, divulgado em 05 de fevereiro de 2019, trouxe a conclusão de que “não houve qualquer falha do sistema de sinalização e sim erro humano” .

Mas o resultado foi contestado pelo Sindicato dos Metroviários que sustenta que há uma lacuna no sistema que controla os trens do monotrilho.

Segundo a entidade sindical, o sistema de controle da Linha 15-Prata não permite que um trem identifique o outro quando um deles está desligado. “Ao se desligar o trem, ele desaparece para o sistema” – sustentou o sindicato.

Também no dia 29, uma peça do sistema elétrico do monotrilho da Linha 15-Prata se soltou da via no trecho entre as estações São Lucas e Vila União, mas por haver grades que retém quedas de objetos, a avenida professor Luís Inácio de Anhaia Melo, que passa embaixo, não foi atingida.

10 de outubro de 2016: No dia 10 de outubro de 2016, uma composição do monotrilho, que trafega em vias elevadas com cerca de 15 metros de altura, partiu da estação Oratório com as portas abertas, conforme mostram as imagens do circuito do Metrô:

Especialistas criticam modelo de monotrilho para São Paulo e cidades vizinhas

Segundo os técnicos e acadêmicos consultados pela reportagem do Diário do Transporte, linhas como 15-Prata (São Mateus/Vila Prudente) e 17-Ouro (Congonhas/Morumbi) deveriam ser atendidas por um modal de alta capacidade, como metrô e trens e não por um meio de média capacidade, como monotrilho.

A linha 18-Bronze (São Bernardo do Campo/Tamanduateí) vai ser substituída por um sistema chamado BRT – Bus Rapid Transit, que consiste em corredores de ônibus com mais capacidade e velocidade maior que os corredores de ônibus comuns, mas com atendimento menor que de um metrô.

As promessas de que as linhas de monotrilho deveriam ser bem mais baratas que do Metrô e de implantação mais rápida não se concretizaram. Todas as linhas deveriam estar funcionando desde 2014, pelo menos, e com preço bem inferior ao Metrô, mas somente a linha 15-Prata opera e constantemente tem registrado falhas graves que comprometem a operação e a rotina dos passageiros. O custo de implantação vai superar R$ 5 bilhões.

Desde o final de semana, mais uma vez os passageiros do monotrilho só contam com ônibus como transporte coletivo porque o monotrilho não funciona.

O problema agora é com os pneus dos trens.

Diferentemente dos trens de alta capacidade do Metrô e da CPTM, que têm rodas de ferro, os trens de média capacidade do monotrilho têm pneus.

Como mostrou o Diário do Transporte, o estouro do pneu do trem M20, quando saía da estação Jardim Planalto, por volta de 6h30 de 27 de fevereiro, colocou em alerta o Metrô e a empresa Bombardier, que suspenderam as operações de 23 composições.

O consultou de transporte, Peter Alouche, disse que monotrilho é sujeito a este tipo de problema e que alertava para as limitações do modal.

“Já alertava para este tipo de problema desde o início da escolha. Registrei meu descontentamento através de muitos artigos técnicos. A possibilidade de estouro de pneus é real neste meio de transporte” – disse o especialista Peter Alouche, que participou ativamente da implantação do Metrô de São Paulo

Já nos anos 1960, o monotrilho tinha sido descartado para a capital e cidades vizinhas.

Em 1966, o então prefeito de São Paulo, Faria Lima, criou o Grupo Executivo Metropolitano – GEM que antecedeu a fundação da Companhia do Metropolitano. Segundo nota na área de Governança Corporativa no site do Metrô, esse grupo contratou um consórcio de duas empresas alemãs (Hochtief e Deconsult), que se fundiu com a brasileira Montreal, formando uma nova empresa, a HMD.

Foi a HMD que realizou a primeira “Pesquisa Origem e Destino”, em 1967, por meio da qual foram projetadas as linhas básicas do Metrô para a cidade de São Paulo, elaborados os primeiros estudos econômicos e o pré-projeto de engenharia, segundo a explicação no site do Metrô.

Assim, o consórcio internacional projetou demandas, que agora se realizaram, para as quais o monotrilho não tem capacidade de atender.

Segundo o arquiteto e urbanista, consultor de transporte, Flaminio Fichmann, em conversa com o Diário do Transporte nesta segunda-feira, 02 de março de 2020, a linha 15-Prata paga por ser laboratório de um monotrilho que a fabricante não possuía.

“Investimos na tecnologia da Bombardier, empresa canadense, que não tinha o “produto” para implantar e atender a demanda da Linha 15 do monotrilho. Ou seja, estamos pagando o desenvolvimento de um novo tipo de monotrilho para uma empresa estrangeira, que está falhando na operação e colocando as pessoas em risco. Hoje podemos afirmar com segurança que eles não cumprirão as especificações do projeto para atender a demanda prevista.”

Fichmann também cita problemas na linha 17-Ouro, que ainda está em construção, em relação a fabricante de trem.

“A Linha 17 Ouro não concluiu o primeiro trecho e não entrou em operação porque a Scomi, outra empresa estrangeira, faliu e não existe previsão para a implantação da linha até o Morumbi, prometida para o início da Copa em 2014. Já gastamos bilhões de reais de modo irresponsável com essa tecnologia.” – disse

Após o rompimento do contrato com o antigo consórcio, o Metrô abriu um novo processo de licitação para o fornecimento de trens de média capacidade e equipamentos e habilitou a chinesa BYD  (Consórcio BYD SKYRAIL São Paulo, formado pelas chinesas BYD do Brasil Ltda; BYD Auto Industry Company Limited e BYD Signal & Communication Company Limited.) para a linha 17, muito embora, o Consórcio Signalling, composto por duas empresas nacionais – Ttrans e Bom Sinal – e uma empresa suíça, a Molinari, tenha oferecido o menor preço.

Na decisão que é alvo de recurso, o Metrô entendeu que o Consórcio Signalling não atendeu o critério de “Patrimônio Líquido”.

Mesmo sem fazer uma defesa do BRT, o arquiteto e urbanista, consultor de transporte, Flaminio Fichmann, diz que foi uma boa decisão do Governo do Estado em descartar o monotrilho para a ligação entre o ABC Paulista e a capital na linha 18.

“Muitos irresponsáveis e mentirosos os que estavam apresentando o Monotrilho do ABC como Metrô, tentando enganar a população. Felizmente esse processo foi sepultado e o ABC poderá se abrir para soluções de transporte mais eficientes, seguras e confiáveis.” – completou Flaminio.

O Sindicato dos Metroviários de São Paulo foi a primeira entidade a divulgar que a interrupção do funcionamento do monotrilho ocorreu por causa de estouro em pneu.

O coordenador-geral do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Wagner Fajardo, explicou ao Diário do Transporte que a entidade sustenta que monotrilho é um meio de transporte de média capacidade, para trajetos curtos, limitado, com características de estrutura e operação sem domínio brasileiro e mais sujeito a falhas crônicas.

“Isso já confirma as opiniões que o sindicato vem expondo desde o início da inauguração desse sistema. O sistema de monotrilho é inseguro, tem muitas falhas e, na realidade, fizeram os trabalhadores e usuários de cobaias num sistema que não deveria ser este, mas metrô para garantir um transporte de alta capacidade” – disse

Os especialistas ainda foram unânimes em defender que a prioridade dos investimentos deve ser a ferrovia de alta capacidade conjugada com uma rede de alimentação por ônibus qualificada, formado por BRTs, corredores comuns e faixas, de acordo com a demanda e as condições de infraestrutura de cada região.

Em nota oficial emitida neste domingo sobre o problema de estouro de pneu, a empresa Bombardier diz que técnicos do Canadá foram enviados para o Brasil com o objetivo de verificar o problema e que quer “tranquilizar os passageiros de que os trens do monotrilho do Metrô de São Paulo têm transportado passageiros com segurança e confiabilidade desde que o sistema foi inaugurado em 2014.”

A empresa ainda pediu “desculpas pelo inconveniente necessário.”, ou seja, a retirada de 23 trens de circulação para a análise.

Interrupção da linha 15-Prata não era teste de controle de trens

Inicialmente, o Metrô dizia que a suspensão da operação se deu por causa de “testes do sistema de controle de trens”, mas o verdadeiro motivo da paralisação da linha 15-Prata, trazido à tona pelo Diário do Transporte e pelo Sindicato dos Metroviários foi o problema com os pneus dos trens.

Segundo o Metrô, ao longo dos testes realizados na linha no fim de semana, foi constatada “a incidência de danos em outros pneus dos trens do monotrilho”

O Metrô relatou ainda que partes dos pneus chamadas “Run Flat” estão causando essa alteração. Esses dispositivos ficam nas rodas e garantem a movimentação do trem em casos de anormalidades, como pneus furados ou murchos.

A estatal disse, por meio de nota, que cobrou da Bombardier e do Consórcio CEML – que construiu a via – providências urgentes para a identificação da causa da ocorrência, a sua correção e que eles arquem com todos os prejuízos decorrentes desta paralisação junto ao Metrô de São Paulo.

Fonte: Diário do Transporte 

Texto e fotos: Adamo Bazani

0 respostas

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.