O triste Brasil sem ferrovias e sem prioridades

Em recente conversa com empresários, o governo federal sinalizou que não é prioridade da atual gestão articular uma política de Estado de longo prazo para a expansão do transporte ferroviário de passageiros, em que pese os técnicos da infraestrutura apontarem o enorme potencial que as viagens sobre trilhos possuem para a integração e o desenvolvimento econômico do país.

Ora, num país em que a saúde pública é tratada pelas autoridades com negligência não é surpresa que assuntos como as ferrovias não comovam o atual governo. O setor, na verdade, está abandonado. Vive entregue à própria sorte, sem nenhuma diretriz ou planejamento, a mercê de empresas que já estão há décadas com a concessão de nossas ferrovias nas mãos, sem nenhum benefício ao transporte de passageiros e, não raro, contribuindo com sua inoperância para a dilapidação de um patrimônio que deveria estar a serviço da população.

Sem uma política de desenvolvimento para as ferrovias, vimos as prorrogações de contrato se tornarem a norma, fundamentadas em promessas de investimentos que só beneficiam os detentores das concessões. Preocupações limitadas, como o aumento da receita com a exploração das ferrovias, dominam as tratativas que deveriam girar em torno de um planejamento a longo prazo.

Tivemos a oportunidade de avançar no diálogo sobre investimentos públicos e privados em ferrovias quando aconteceu a grande greve dos caminhoneiros, em 2018. Mas a sociedade civil não deu atenção à necessidade de resgatarmos o modal ferroviário como alternativa para o transporte de passageiros e também para o transporte de carga. Todas as nações continentais reservam às ferrovias um papel preponderante na movimentação de grandes cargas e passageiros, com segurança e menor custo energético. A exceção é o Brasil.

Temos 30 mil quilômetros de trilhos, mas a maior parte está desativada devido ao descaso e o desgaste temporal. Os poucos trechos operantes recebem composições que funcionam à velocidade média de inacreditáveis 15 km/h.

É o retrato de um Brasil sem ferrovias e sem esperança.

José Manoel Ferreira Gonçalves é engenheiro, jornalista, advogado, professor doutor, pós-graduado em Ciência Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e presidente licenciado da Ferrofrente.

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