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Nos bons tempos de faculdade tive um grande professor, que se chamava Jorge Albuquerque e tinha um bordão: “já falei isso para vocês, mas poucos se lembram, certo? Certo. Porque é pela repetição que se aprende, por isso repeti”. Gostaria de lembrar tudo que aprendi com ele como me lembro desse seu bordão.

Pois bem, os grandes homens são difíceis de imitar, não podendo imitá-los na profundidade do conhecimento e no talento, imitamos no que podemos, como no estilo do bigode, do cacoete da mão na testa etc.

Do saudoso professor, na incapacidade de imitá-lo no que ele tinha de maior, imito no teor do bordão. Por isso repito que o trem emite apenas um quarto dos gases de efeito estufa quando comparado ao transporte rodoviário; que o frete do trem é cinco sextos mais barato, ou seja, custa apenas um sexto do frete do caminhão; e que o trem salva vidas, seja pela diminuição de caminhões nas estradas, seja pela diminuição da poluição cancerígena das cidades. O trem é barato, o trem é limpo.

Por esses motivos, na Rússia, eterno exemplo, os caminhões transportam apenas 8% das cargas. Contudo, por razões diversas, alguns inconfessáveis, no Brasil 68% das cargas são transportadas sobre pneus.

Neste contexto, o investimento em ferrovias em nosso país tem uma urgência e uma importância ímpar. Todos os países precisam e merecem, mas no Brasil isso tornou-se uma questão de vida ou morte, seja para a nossa competitividade internacional, seja para baratear o feijão na mesa do trabalhador: A depender da época os produtos não perecíveis da cesta básica poderiam custar até metade do preço se tivéssemos trens.

Os investimentos a que nos referimos devem ser direcionados para implantação de novas linhas e, dada a urgência – sejam linhas privadas, consorciadas com o poder público ou públicas mesmo – mais que bem-vindas, todas são necessárias.

A necessidade de investimento, contudo, extrapola a implantação de ferrovias, é muito importante que se invista em tecnologia para que as ferrovias existentes sejam mais bem aproveitadas.

Foi o que concluiu a MRS Logística, que funciona desde junho de 2013 com um sistema de CBTC – o mais moderno para o controle de trens, o mesmo usado nos metrôs. A MRS é a primeira empresa ferroviária de carga do mundo a usar esse sistema.

Foram R$ 1,5 bilhão de investimentos entre 2010 e 2013 e 100, dos 356 quilômetros da ferrovia operada pela MRS Logística, já se valem do CBTC, que amplia a capacidade de transporte porque integra, com comunicação via radiofrequência, dados da locomotiva, do sistema de sinalização e do centro de controle. As locomotivas passam a “conversar” entre si.

Com a modernização da sinalização e do centro de controle, a MRS reduziu a distância média entre as composições de 9 km para 3 km. Como cada composição (composta por 134 vagões) transporta 16 mil toneladas de peso, o aumento do total transportado sobre a mesma infraestrutura pode até triplicar.

Essa solução precisa migrar para outros trechos, pois representará um bem à nação inteira, que mais que necessitada é merecedora de uma atenção como essa.

Por: José Manoel Ferreira Gonçalves

Engenheiro, jornalista, advogado, professor doutor, pós-graduado em Ciência Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e presidente da FerroFrente.